Sabe quando me frustro? Quando vejo que o que eu faço não tem a menor importância. Que meus desejos são coisas supérfluas. Que meus sonhos não têm valor. Me frustro quando vejo que você cruza os braços para a minha vida. Me frustro quando fico em segundo plano. Me frustro quando ouço sou-assim-e-não-vou-mudar. Porque eu mudo. Eu mudo todo dia. Porque estar em um relacionamento é se transformar, é fazer sacrifício, sem perder a nossa essência. A gente não precisa deixar de ser a gente mesmo. Mas pra dar certo a gente tem que querer tentar. E não dizer eu não vou mudar.
Sério, não entendo. Sabe quando você simplesmente não entende? Sei que as coisas são assim, num dia estão bem e no outro já engatinham novamente. Mas nem sempre compreendo. A gente se dá, tenta deixar as coisas em ordem. A gente se esforça, deixa as próprias vontades de lado pra ver outra pessoa feliz, ainda que por poucos segundos. E recebe de volta o quê? Uma palavra mais áspera e um não entendimento. Desculpe, não entendo.
Como posso me dar tanto?, me pergunto. Não sei, só sei que não dá pra ser de outro jeito. Se for, acredite, vai dar errado, não vai vingar, não vou ser eu. E isso eu prezo muito: ser eu. Nem sempre é bom, às vezes é bem dolorido, lateja, sangra. Mas me aceite. Posso ser tudo, menos mentirosa. Posso fazer tudo, mas procuro tratar todo mundo bem. Posso até ter um certo ciúme do passado, mas não sou maluca. Entendo que o que foi, foi (ainda que fantasmas apareçam volta e meia assombrando minhas noites). Se a minha cara não estava legal, desculpe, mas eu não estava legal. É bem simples. E você entendeu? Me diz, entendeu? Com toda aquela praticidade, disse ah, era só tomar um ar. Não, não era. Eu estava me sentindo mal de dentro pra fora, de fora pra dentro, nenhum ar resolveria, só a distância de fumaça, calor, barulho. Além do mais, vou ficar menstruada – e isso conta muito. Meu humor fica abalado, meus peitos ficam doloridos, sinto enxaqueca e minha pressão despenca do décimo andar. Acho que se fosse em um dia normal eu nem teria chorado. Mas chorei, tá ouvindo? Hoje eu chorei e pensei: não acredito nisso. Tá ouvindo? Eu chorei, fiquei magoada. Eu sou sensível, ouviu? E, confesso, nem sempre sou fácil de ler. Mas quem é? Tudo bem, falo de mim, deixa os outros. Não gosto de me sentir assim, acusada, acuada. Nunca apontei o dedo julgando uma cara sua – Procuro respeitar e entender. Por isso, talvez eu queira ser um pouco entendida – e não julgada. E se eu brinco, ai, desculpa, minhas brincadeiras não fizeram Curso de Boas Maneiras. Elas atravessam no sinal vermelho, usam saia indecente e mascam chiclete de boca aberta. Não se sinta magoado por isso. Vou tentar melhorar, eu prometo. Nem pedi atenção, só entendimento. Nem queria mimo, só justiça. Nunca gostei de palavras mal ditas.